Há umas semanas atrás, o professor Luís disse-nos que, numa conversa, o cientista Hans Krebs lhe disse:
Só nos tornamos biólogos a partir do momento que deixarmos de constatar diferença entre uma alface e um elefante.
Mas afinal, não existe uma diferença tão grande entre uma alface e um elefante?
Arriscaria-me a dizer que, assim que avançamos em consciência, essa
diferença vai se desvanecendo.
Na faculdade temos inúmeras cadeiras que nos ensinam a ver as diferenças entre um alface e um elefante, mas não temos nenhuma cadeira que nos ensine a não ver qualquer diferença entre estes dois seres vivos...
Mas para vos convencer de tal, vou vos apresentar várias teorias
(das quais as maioria provém da Grécia Antiga)
que vos ajudará a abrir os olhos se ainda não se tiverem tomado conta da
Unidade em tudo o que existe.
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Começo por falar muito resumidamente da antiga Alquimia, em
que o seu funcionamento consistia em reduzir a matéria à sua unidade comum,
para assim puderem reestruturá-la, transmutá-la. Curioso…
Falo-vos agora igualmente
resumidamente do átomo. Esta ideia surgiu na Grécia antiga com Leucipo,
Demócrito e Epicuro, que suponham que toda a matéria seria constituída por esta
unidade indivisível e espaços vazios.
Tenho de falar-vos também de Heraclito e Parmênides, (que
tinham pontos de vista aparentemente contrários mas que mais tarde, Aristóteles
e Platão visaram conciliar numa teoria que supere a oposição de conceitos das
duas doutrinas).
Eles começam a especular sobre a natureza das coisas, e é
engraçado ver como tão diferentes e tão
iguais, a certo ponto, as suas teorias revelam ser (pelo menos aos meus olhos).
Começo por Heráclito
de Éfeso, o filósofo sem mestre.
Ele dizia:
"Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta
e nada fica parado...
"Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio,
pois na
segunda vez não somos os mesmos, e o rio também não."
“É na mudança que as coisas acham repouso."
Ou seja, o Universo é um fluxo ou mudança permanente de
todas as coisas, tudo passa, tudo se move e se transforma a todo o momento. Existe
uma unidade do múltiplo e uma multiplicidade do uno, porque ela consiste na
conjugação e balanço entre os opostos.
Para ele, tudo está em movimento, em fluxo contínuo, mas a
realidade possui uma unidade básica, uma unidade na pluralidade. É a unidade
dos opostos: dia e noite, calor e frio, masculino e feminino, os opostos que se complementam… yin & yang
?
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Por outro lado, temos Parmênides,
que embirrava com Heráclito:
"Fora com os homens que nada sabem e parecem ter duas
cabeças! Junto deles está tudo, também seu pensamento, em fluxo. Eles admiram
as coisas perenemente mas precisam ser tão surdos quanto cegos para misturarem
assim os contrários!".
Parmênides ordena a realidade em 2 classes: o ser e o não
ser. Por exemplo, temos a luz (ser) e a escuridão (não-ser), em que a escuridão
nada mais é do que a inexistência de luz.
No entanto, ele necessitava de explicar a mudança... o vir a
ser (um ser que se torna não-ser ou um não ser que se torna ser).
Ora ele partiu do princípio que o Ser, como sempre foi e
será Ser, nunca poderá ter vindo do
Não-ser, assim como o Não-ser nunca poderá ter vindo do ser. Portanto, não há
mudança - Só existe ser e não ser.
Apenas existe um Ser único, omnipresente e intransmutável, e
a mudança (vir-a-ser) evidenciada pelos nossos "sentidos mentirosos"
é apenas uma ilusão sensorial.
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Agora Empédocles .
Ele falou-nos dos 4 elementos que constituíam tudo o que existe. A Água, a
Terra, o Fogo e o Ar, eram as raízes de tudo. Influenciada pelas proporções em
que esses elementos forem combinados, será a diferença entre estruturas.
Constatando uma evidente mudança nos arranjos e combinações
destes elementos, Empédocles pressupõe a existência de duas forças, uma
atrativa e outra repulsiva. O
Amor contribui para a junção e união dos
diferentes elementos, enquanto que o Ódio/Revolta resulta na separação dos
mesmos elementos.
Previa também que no início de tudo, os 4 elementos e as 2
forças "da mudança" coexistiam numa condição de repouso e imobilidade
na forma de uma esfera. Os elementos encontravam-se todos unidos na sua pureza
porque o Amor predominava nessa esfera, sendo que o ódio ocupava os extremos da
mesma. Porém, a certo ponto, a revolta ganhou força e destruiu a união
existente entre os diferentes elementos, sendo que se passou verificar uma
constante "dança de contrastes e oposições", regido pelo balanço
entre o amor e o ódio.
Empédocles acreditava num universo cíclico onde os elementos
regressam e preparam a formação da esfera para o próximo período do universo.
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De seguida, Anaximandro. Este excerto explica muito clara e
resumidamente o pensamento do filósofo acerca do tema que vos quero falar.
‘Depois de Tales
considerar que todas as coisas tinham como principio a água e a humidade,
Anaximandro começou a pensar em como explicara existência do seco, do quente,
do fogo. A água é uma das substâncias materiais mas não a única. Tem de haver,
portanto, algo mais fundamental do que a água e que seja o verdadeiro princípio
de todas as coisas e o substrato de todas as mudanças. Esta realidade mais
fundamental é difícil de caracterizar mas poder-se-ia dizer que é a matéria em
geral, anterior a todas as suas determinações e limitações concretas, ou seja,
algo de indeterminado e ilimitado, a que Anaximandro dá o nome de ápeiron. No
seio desta matéria originária, ilimitada e indeterminada, há diversas
tendências contrapostas que se opõem continuamente entre si. O seco opõe-se ao
húmido. O quente opõe-se ao frio. Em determinada matéria infinita uma destas
tendências triunfa momentaneamente sobre a sua contrária, dando lugar às coisas
e fenómenos que observamos. Este triunfo de uma tendência à custa de outra é
uma injustiça que com o tempo é reparada pelo triunfo da tendência oposta. Como
diz Anaximandro: As coisas pagam justa reparação umas às outras pelas
injustiças que cometeram entre si, segundo a ordem do tempo. Assim o calor
triunfa injustamente no Verão, injustiça essa que é reparada com o triunfo da
tendência contrária - o frio - no Inverno. O fogo evapora a água, mas a água
apaga o fogo. Ao dia sucede a noite e à noite o 'dia. Subjacente a todas estas
lutas implacáveis e intermináveis, a esta sucessão de periódicas injustiças e
reparações, permanece a matéria-prima indeterminada, o ápeiron, do qual tudo
surge e ao qual tudo retorna.’
-retirado de http://lrsr1.blogspot.pt/2011/04/anaximandro-o-apeiron-e-o-principio-de.html
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Panteismo ___ é a crença de que absolutamente tudo o que existe compõe um Deus abrangente e imanente, ou que o Universo (ou a Natureza) e
Deus são idênticos.
O filósofo holandês, de origem judia e portuguesa, Baruch
Spinoza, filósofo holandês do séc. XVII, de origem judia e portuguesa disse
"Só o mundo é real, sendo Deus a soma de tudo quanto existe".
Espinosa é conhecido como um dos maiores defensores desta
crença, mas ela já existe provavelmente desde a época pré-histórica, numa
altura em que o Homem vivia em perfeita harmonia com a Natureza.
‘Não existe efeito sem causa. Assim, para todo efeito deve
haver uma causa. E, para todo efeito inteligente também deve haver uma causa
inteligente. E, se o universo compreende um conjunto de efeitos inteligentes,
logo a causa que os produz é inteligente nesta mesma proporção. Assim, a essa
causa chamamos Deus. ‘
-- Elio Mollo
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Macrocosmos e do
Microcosmos___ 'é um conceito Neo-Platónico
influenciado no pensamento da antiga grécia que procura ver os
mesmos padrões
reproduzidos em todos os níveis do cosmos, a partir da maior escala (macrocosmo
ou em nível de universo) até à menor escala (microcosmo, nível sub-atómico). No
sistema do ponto médio é o homem, que resume o cosmos.'
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A evolução da sociedade em que vivemos tem sido conduzida
para um sentido em que tudo se separa, tudo se diverge. Sentimo-nos separados,
isolados... No meio da cidade é difícil sentirmo-nos conectados com tudo.
Perdemo-nos em nós próprios… Vivemos rodeados de milhares de pessoas, e ainda
assim por vezes sentimo-nos extremamente sozinhos.
Somente nós, o ser humano, se mantém grande parte da sua
vida deslocado, sendo que lhe passa despercebida esta Unidade que envolve tudo o
que existe no Universo. A grande causa é o ego, que cria a falsa sensação de
separação.
Ouvimos falar várias vezes de que o homem precisa de
aprender a se integrar na Natureza...
Conceitos tal como 'interagir com a Natureza' é algo que os
animais não conhecem, porque eles SÃO a natureza, assim como nós, mas esta nossa
mente complexa conseguiu fazer com que nos sentíssemos separados, deslocados. O
mais engraçado é que apenas divergimos dos restantes animais em
termos evolutivos: somos evolutivamente
mais desenvolvidos em capacidades cognitivas e racionais, e assim, em nível de
(auto) consciência (nem todos).
Somos todos feitos do mesmo…
A única coisa que muda são os
arranjos dos átomos entre si.
' O azoto/hidrogénio no nosso ADN, o cálcio nos nossos dentes, o ferro no nosso sangue, o carbono nas nossas tartes de mãça, foram feitos no interior de estrelas que estavam a colapsar. Nós somos feitos de pó de estrelas.'
- Carl Sagan
O engraçado é que somos o único ser que tem a capacidade de ser
auto-consciente…
e agora reflitam nisto:
‘Nós somos a maneira de o Universo se conhecer a si próprio.'
- Carl Sagan
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Se repararmos, a única diferença entre nós, um ser humano, e
a primeira célula que trouxe a vida para este nosso planeta, é unica e
excluivamente o tempo. O tempo fez desenrolar processos evolutivos, e fez
essa célula primitiva evoluir para seres cada vez mais complexos - um
deles somos nós.
Então, talvez, a diferença entre uma Alface e um Elefante
seja o TEMPO, que fez com que os átomos, e consequentemente, as moléculas tomassem
diferentes arranjos, em crescente complexidade.
Todos provemos de um ancestral comum, é tão simples como
isto !
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Basicamente, só vos queria lembrar que somos todos feitos de
99% de espaço vazio e 1% de matéria, que nada mais é do que energia condensada (disse Einstein).
Nós perdemos noção da nossa verdadeira essência.
Desculpem se me dispersei muito no tema… Mas existem certos
temas que me “puxam” muito porque sinto que muita gente (gente demais) vive
alienada neste planeta.
Talvez, incluindo até eu.
João Gonçalo Dias
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'Estamos todos conectados.
Entre nós, biologicamente.
Com a Terra, quimicamente.
Ao Universo, atomicamente.'
-Neil Degrasse Tyson