terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Terror da Ciência

Ora, muito boa noite.


 Sendo esta a primeira vez que escrevo alguma coisa no blogue, sinto-me na necessidade de começar com uma advertência: 
não levem os meus textos a sério. Isto porque eu própria não me consigo levar a sério; todas as minhas pequenas observações e conclusões (seja a comprar iogurtes ou a ler Schopenhauer) não atingem profundidade nenhuma e não têm potencial para ir a lado nenhum (tanto que escolho sempre os piores iogurtes e continuo a achar que a metafísica é um tipo de maçã). Peço-vos que imaginem que estão a ler registos escritos de conversas de tasca ou de taxistas de Alfama. Dessa forma, ninguém se desilude muito. 
                         
Apesar daquilo que parece sugerir o parágrafo anterior, não decidi escrever um texto sobre taxistas de Alfama. O que propus a mim mesma foi escrever algo parvinho sobre a relação entre os progressos científicos e a ficção de terror. 
Temos de ter em particular atenção o facto de não serem só os progressos científicos que geram no ser humano algum tipo de inquietação. Todo o tipo de mudanças culturais - sejam elas políticas, tecnológicas, sociológicas ou mnhamnhalógicas - geram uma resposta ao estímulo. Essa resposta são "obras de ficção". Obras de ficção menos alegres, note-se. 

Tenho para mim que o ser humano é tendencialmente pessimista: sempre que pode imagina o pior cenário possível. Adora distopias. Passa-se com distopias. Para o ser humano, a boa distopia bate qualquer petiscada de tasca (a não ser que seja um gajo de Alfama).
Bons exemplos de autores de boa ficção distópica são senhores como Kafka, George Orwell ou Aldous Huxley. Estes três sôtores limitaram-se a usar as suas excelentes capacidades de escrita e de abstracção para criar um ambiente que nos é desconfortável e que quase nos arrepia.
       

No entanto, nada acagaça e arrepia mais um ser humano do que a ciência.
Perdão, há uma coisa que acagaça mais o ser humano: o desconhecido.
Homo Sapiens só se acagaça tanto com a ciência porque, das duas uma, ou não compreende a explicação científica que um outro Homo Sapiens lhe deu ou compreende demasiado bem, ao ponto de perceber que aquela explicação científica (tal como todas as outras do mesmo género) se limitam a abrir mais caminhos na escuridão do desconhecimento. 
A humanidade é um puto de 6 anos com medo de ir à casa de banho a meio da noite. 

Porque, observado um fenómeno, ou surge uma explicação sobrenatural  - e aí o puto de 6 começa a imaginar todo o tipo de monstros no corredor  – ou surge uma explicação natural. 
A explicação natural, por norma, parece trazer atrás de si MAIS perguntas, mais possibilidades e mais cenários horríveis - agora o puto de 6 anos começa a ter medo de chegar à casa de banho, porque não sabe o que vai encontrar lá   

A título de exemplo, gostaria de referir Frankenstein. Quem não leu o livro da Mary Shelley (que aconselho vivamente, já agora) já viu os vários filmes que foram feitos a seu respeito. Aqueles que não fizeram nenhuma destas coisas conhecem certamente a história. 


Parecendo que não, para o século XIX aquilo era uma coisa que merecia a boa urinadela pelas calças abaixo. A autora teve, para além da sua vida pessoal, os progressos científicos da sua época a influenciá-la naquele sentido. Não nos esqueçamos de muitas experiências (macabras) que na alturam abriram portas para novo conhecimento (macabro) com muitas possibilidades (macabras). Entre essas experiências, encontra-se a de Luigi Galvani, o rapaz que decidiu electrocutar cadáveres de rãs (ou parte deles) para ver o que acontecia. Para surpresa de muitos, mexiam-se. ‘Tá boa… Isto é estranhamente familiar com a forma como o monstro de Frankenstein é “puxado para a vida”. 
                                                               
     Frankenstein é um símbolo do medo de ir longe demais.
O monstro de Frankenstein é uma das muitas caras que damos ao medo que se sente face à mudança. 
E isto é o Boris Karloff: 


Mariana Nunes

8 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito do que li :)

Anónimo disse...

Muito bem :) É bem verdade que muitos têm medo da ciência, que vá longe de mais. Mas não é por isso que deixa de ser necessário o progresso científico, e o mundo devia aprender que a investigação científica não pretende criar nenhum monstro (pelo menos não intencionalmente!).
Continua a escrever assim! Os meus parabéns!

M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M. disse...

Bem, o feedback tem sido muito positivo. Um grande obrigado para todos aqueles que já me dirigiram palavras que me fizeram festinhas no ego :)

Anónimo disse...

Está muito bom, gostei do teu estilo de escrita (humor combinado com factos, analogias bem pensadas,etc). Continua assim!

M. disse...

Dirijo-lhe um obrigado e um abraço, anónimo :)

Anónimo disse...

Uma vez que uma boa parte do texto se refere a Frankenstein não fui capaz de deixar de fazer referência a um filme relacionado com o tema. Na minha perspectiva um filme bastante interessante e especialmente ao gosto dos amantes de filmes a preto e branco. "Frankenweenie" - Tim Burton Parabéns pelo texto, gostei muito. :)

M. disse...

Eu, que gosto muito do Tim Burton, ainda não vi o Frankenweenie (apesar de estar na minha pasta de filmes há uma enormidade de dias... abandonado).
Obrigada pela sugestão e pela crítica positiva :D
Um grande abraço, anómimo(a)