quinta-feira, 24 de outubro de 2013

All your base are belong to us

Então, tudo bem? A família vai boa? 

Isso é que é preciso.

Lembram-se da senhora que perguntava se estavam a chover chouriças?
Ou da senhora que afirmava que o volume das colunas estava muito alto?
Ou do nyan cat?


São coisas que se tornaram "virais".
São giros, estes fenómenos da internet. 
Os memes são, sem dúvida, fenómenos giros. 


Gostam de ir ao 9gag? 

Eu sei que sim. 

Aposto que alguns de vocês até vão ao 4chan.
Ah, meus grandes malucos. 


Há gente que concorda que aquilo estava muito alto.
Estão, portanto,  familiarizados com a palavra “meme”. 
E com os memes do Richard Dawkins




Sim, com os memes do Richard Dawkins.


Há quem tire fotos na casa de banho.
O Richard Dawkins tira fotos com fósseis de amonite.
O Ricardo é biólogo e gosta de escrever coisas.

Uma das coisas que escreveu foi  “O Gene Egoísta”, publicado em 1976.
É aqui que ele expõe a teoria de que possuímos dois tipos de unidades fundamentais: os genes e os memes.

Os genes já toda a gente sabe o que são:  a unidade fundamental da hereditariedade e do genoma. Aquilo que nos define sem influências exteriores.
(Por agora não vou falar de epigenética, ficará para outra altura)

Os memes são outra conversa: os memes são a unidade fundamental da memória e do conhecimento. Chegam-nos através do exterior, são o ambiente, são condicionamento.

Em termos análogos, os memes são genes culturais.  

Os memes podem ser ideias, ou parte delas.
Os memes podem ser línguas.
Os memes podem ser valores.
Os memes podem ser piadas giras (ou secas).
Os memes podem ser filmes de terror dos anos 30.
Os memes podem ser canções do José Cid.
Os memes podem ser uma gravura do Max Ernst.
Os memes podem ser um texto do Mário Henrique-Leiria.
Os memes podem ser uma receita de bacalhau espiritual.
Cultura.
Pequenos pedacinhos de cultura.


Surpresas da pesca
Não tinha dado nada.
Preparava-me para voltar para casa, mas resolvi atirar a linha uma última vez.
Senti um esticão bem forte. Segurei firme e comecei a enrolar o carreto com cuidado, devagar. E não é que vejo vir um nazi no anzol!! Um nazi bem bom, dos grandes! Fiquei admiradíssimo, tinham-me dito que já não havia. Tratei de o tirar com o auxilio do camaroeiro e fui verificar imediatamente. Era mesmo. General e SS, calculem! Com boné, medalha suástica e tudo. Vá lá uma pessoa acreditar no que lhe dizem! Meti-o logo numa lata, enquanto estava fresco, e despachei-o para a Peixaria Nacional. Lá devem saber o que fazer com ele. A mim, francamente, não me serve para nada.
Mário-Henrique Leiria

(Isto que acabaram de ler é um meme.)


Richard Dawkins – ou Ricardo, para os amigos – atribui a estes pedacinhos de cultura – ou memes, para os amigos – propriedades evolutivas.
E, sendo um autoproclamado neodarwinista, o Ricardo tenta aplicar a selecção natural aos memes. A selecção natural e outros termos e conceitos fundamentalmente biológicos.

Os memes, tal como os genes, são transmissíveis.

Não da forma tradicional, claro.
Não existem processos de meiose ou de fecundação envolvidos.
Nunca ouviram uma mãe católica a dizer:
“Não sei o que se passou… Durante a gravidez, fiz tudo o que o doutor disse: não bebi álcool e tomei todos os suplementos alimentares. Mas vai daí e o moço nasce-me budista.”
"Meu pobre filho..."
"Meme" vem do grego “imitar", e estes memes surgem em diferentes indivíduos por imitação

(Sendo "imitação" levar informação do ambiente até ao cérebro através das sensações - segundo Gabriel Tarde)

Por ensinamento.

Por influência. 

Aquilo que o sôtor Ricardo chama de “macromemes”, memes complexos, como as religiões, são o perfeito exemplo da transmissão memética: 

A mãe católica tem um filho: 
Quando nasce, o miúdo não passa de informação contida em genes. 
Ainda não foi exposto à influência do ambiente. 
Pode muito bem vir a ser católico (com memes que a mãe certamente tentará impingir ao miúdo), satanista ateísta (se estiver revoltado com a vida e ler a Bíblia Satânica de LaVey), satanista teísta (se descobrir que a paz espiritual resulta do sacrifício de uma vaca) ou wiccan (se descobrir que a paz espiritual resulta de rituais que envolvem facas que simbolizam o falo do Deus - athame).
Tudo depende daquilo que o rapaz irá imitar (consciente ou inconscientemente) das influências que recebeu. E isso define, em parte, o organismo.

"Athame? O que tu queres sei eu."
- Freud

"Então e o meme evolui?"
Sim, o meme evolui.

As ideias vão sendo sendo seleccionadas (naturalmente ou artificialmente).

Exemplo:
Tu tens o meme que te permite fazer uma catana.
O teu inimigo tem o meme que lhe permite fazer uma AK47.
Tu estás em maus lençóis.
O teu inimigo tem maior probabilidade de sobrevivência e de transmissão do seu meme.


Para além do sucesso cultural, a perpetuação de um meme depende também de outros factores:
Experiência – É menos provável que acredites num meme que não tem nada a ver com a tua experiência pessoal, que não te diz nada.
Felicidade – É muito mais giro acreditar em memes que te deixam todo contente.
Medo – És, por vezes, levado a acreditar em memes pelo medo (não queres arder no inferno, pois não?)
Economia – O meme propaga-se por influência. Pessoal com dinheiro consegue mais facilmente fazer chegar o seu meme a uma maior audiência. Para além disso, se um meme te favorece os bolsos, vais certamente apostar mais nesse meme.
Censura – A PIDE andava aí a apanhar comunistas. A Igreja Católica andava aí a queimar livros. E mais não digo.
Conformidade – Os memes populares têm mais sucesso. A norma social não passa de um conjunto de memes. Queres integrar-te num grupo? Então tens de seguir minimamente a sua rede memética. Terás até mais facilidade em encontrar um companheiro(a) desse grupo (e aqui entra a selecção natural).


Saber fazer isto num contexto bélico: exemplo de um meme que não te leva a lado nenhum
Temos, portanto, processos de selecção natural e de hereditariedade na evolução memética.

Mas, se existe tanta diversidade memética, será que os memes sofrem mutações?

Sim, os memes sofrem mutações.

As línguas sofrem mutações. As ideias sofrem mutações. 

Normalmente, por questões interpretativas

(Quem conta um conto, acrescenta um ponto)
(Espetacular é ter usado um meme - o provérbio - para explicar os memes)
A palavra “meme” é exemplo de uma mutação memética:

Aquilo que em 1976 era, para Richard Dawkins, a ideia da unidade fundamental do conhecimento e da memória, sobre a qual ele escreveu um livro inteiro (daqueles com folhas e tudo) é em 2013, para a grande maioria da nossa geração, isto: 


LOL U MAD, DAWKINS?

Mariana Nunes

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