segunda-feira, 21 de outubro de 2013


Mapa-múndi das espécies animais atualizado

A vinte de Dezembro de dois mil e doze um novo marco na história do conhecimento humano deu-se. Foi, assim, apresentado ao mundo um novo mapa que permite ao ser humano estudar de maneira mais verosímil a árvore filogenética das espécies.

Tal proeza foi conseguida por uma equipa internacional de investigadores, entre os quais, um português – especialista em biodiversidade.
Esta equipa combinou dados geográficos e evolutivos, recolhidos ao longo de vinte anos, incidindo sobre vinte e uma mil e trinta e sete espécies e “construiu” o contemporâneo mapa da distribuição geográfica de algumas espécies animais Terrestres (tais como mamíferos, não marinhos; anfíbios e aves).

O novo mapa, explanado na mundialmente conhecida revista Science, atualiza, reconstrói e “corrige” o mapa antigamente utilizado, que servia de substrato aos mais diversos trabalhos de estudo e investigação  acerca da biodiversidade animal do nosso, tão peculiar, planeta. Mapa esse que data de 1876!

Idealizado e registado por Alfred Russel Wallace – já nosso conhecido das aulas de HPB como co-descobridor, de certa forma, independente de Charles Darwin, da teoria das seleção natural das espécies. O desatualizado mapa apresenta, contudo, inúmeras semelhanças com o moderno exemplar.
Não esqueçamos que tais similaridades mostram ser um feito, com F maiúsculo, dado que tudo foi conseguido através da simples observação empírica, e muitas vezes relatada, até. Tendo por base uma tecnologia muito “precária”, face à dos dias que correm. Uma realidade inevitavelmente diferente à nossa.

Todavia os autores da versão mais recente do mapa-mundí das espécies animais mundiais revelam a existência de divergências (com base nos “lotes” de informação genética aos quais temos acesso, nesta geração que decorre, permanentemente) entre mapas, que, segundo os mesmos, pode marcar a diferença na concepção de futuros programas de conservação das espécies.
O erro crasso de Wallace foi não ter tido em conta (talvez pela muito provável falta de “ferramentas”) as filogenias, embora estas já lá estivessem (na sua noção construtiva e palpável de mapa) de forma qualitativa.

Alfred Wallace é visto como o pai da biogeografia, principalmente pelas conclusões a que chegou, observando o mundo com olhos de quem vê. Como quem busca o conhecimento da vida e da formação desta, da mesma forma que procura respirar.

Fruto de tais observações surgiram os reinos de Wallace. Seis vastos reinos que visavam fornecer informação prática em relação à origem evolutiva das múltiplas espécies existentes.
O atual mapa medra mais cinco reinos, subdivididos em vinte regiões e ainda distingue o reino Saro-arábico (constituído pelo norte de África e pela península Arábica) do reino Paleárctico  (que reúne a Euroásia) e Afrotropical.

Foi ainda possível afirmar que Madagáscar, ao contrário do que Wallace pensava, não estava “ligada” a África, mas sim à Índia. O que tem uma importância significativa no que toca à conservação das espécies, pois se Madagáscar estivesse, de facto, ligada a África, a sua prioridade seria menor.

Também foi possível ser feita a distinção de um reino, a sul do Paleáctico, o reino Sino-japonês. Enquanto que a Nova Zelândia passou a pertencer ao mesmo reino que a Austrália (o que não era o caso até à data). Contrariamente, o reino Australiano foi dividido, tendo sido formado, por conseguinte, o reino Oceânico – do qual faz parte a Nova Guiné e as ilhas do Pacífico.

O jovem modelo do mapa permite, acima de tudo, resolver a questão que diz respeito àquilo que hoje é conhecido com “As linhas de Wallace”.
Este conceito vem figurar um obstáculo à dispersão das espécies animais. De acordo com o notável naturalista (A. Wallace) estas “linhas” assinalariam uma desagregação entra as faunas do antigo reino Oriental (que inclui o Sudoeste asiático e o subcontinente indiano) e o reino da Austrália. No fundo, uma fronteira que reivindica contrastes biológicos e divergências de ecossistemas. Wallace havia colocado a fronteira natural entre Bornéu e a ilha Indonésia de Celebes.

A verdade é que após inúmeros debates atuais acerca desta temática, tem-se vindo a provar que as linhas de Wallace (precisamente assim chamadas em honra e memória de quem as descortinou em primeira instancia) estão, efetivamente, não muito longe do que prevera o cientista.

Todo este “conto” faz-nos refletir acerca da construção epistemologia, dos meios usados para atingir o conhecimento científico (que indubitavelmente mudam consoante as necessidades da sociedade) e das nossas capacidades mentais como pseudo-biólogos e “fazedores” da história.

No mundo, e sobretudo na biologia, nada é estático. Tudo é biodegradável, reciclável. Muitos fenómenos são cíclicos. E é importante lembrarmo-nos disso quando tentamos agir, criar, pensar.

Por Ana Catarina Narciso - baseado em “E 136 anos depois, o mapa-mundí das espécies animais foi actualizado”, in Público.

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