Mapa-múndi
das espécies animais atualizado
A vinte de
Dezembro de dois mil e doze um novo marco na história do conhecimento humano
deu-se. Foi, assim, apresentado ao mundo um novo mapa que permite ao ser humano
estudar de maneira mais verosímil a árvore filogenética das espécies.
Tal proeza
foi conseguida por uma equipa internacional de investigadores, entre os quais,
um português – especialista em biodiversidade.
Esta equipa
combinou dados geográficos e evolutivos, recolhidos ao longo de vinte anos, incidindo
sobre vinte e uma mil e trinta e sete espécies e “construiu” o contemporâneo
mapa da distribuição geográfica de algumas espécies animais Terrestres (tais
como mamíferos, não marinhos; anfíbios e aves).
O novo mapa,
explanado na mundialmente conhecida revista Science,
atualiza, reconstrói e “corrige” o mapa antigamente utilizado, que servia de
substrato aos mais diversos trabalhos de estudo e investigação acerca da biodiversidade animal do nosso, tão
peculiar, planeta. Mapa esse que data de 1876!
Idealizado e
registado por Alfred Russel Wallace – já nosso conhecido das aulas de HPB como
co-descobridor, de certa forma, independente de Charles Darwin, da teoria das
seleção natural das espécies. O desatualizado mapa apresenta, contudo, inúmeras
semelhanças com o moderno exemplar.
Não
esqueçamos que tais similaridades mostram ser um feito, com F maiúsculo, dado
que tudo foi conseguido através da simples observação empírica, e muitas vezes
relatada, até. Tendo por base uma tecnologia muito “precária”, face à dos dias
que correm. Uma realidade inevitavelmente diferente à nossa.
Todavia os
autores da versão mais recente do mapa-mundí das espécies animais mundiais
revelam a existência de divergências (com base nos “lotes” de informação
genética aos quais temos acesso, nesta geração que decorre, permanentemente)
entre mapas, que, segundo os mesmos, pode marcar a diferença na concepção de
futuros programas de conservação das espécies.
O erro
crasso de Wallace foi não ter tido em conta (talvez pela muito provável falta
de “ferramentas”) as filogenias, embora estas já lá estivessem (na sua noção
construtiva e palpável de mapa) de forma qualitativa.
Alfred Wallace é visto como o pai da
biogeografia, principalmente pelas conclusões a que chegou, observando o mundo
com olhos de quem vê. Como quem busca o conhecimento da vida e da formação
desta, da mesma forma que procura respirar.
Fruto de
tais observações surgiram os reinos de Wallace. Seis vastos reinos que visavam
fornecer informação prática em relação à origem evolutiva das múltiplas
espécies existentes.
O atual mapa
medra mais cinco reinos, subdivididos em vinte regiões e ainda distingue o
reino Saro-arábico (constituído pelo norte de África e pela península Arábica)
do reino Paleárctico (que reúne a
Euroásia) e Afrotropical.
Foi ainda
possível afirmar que Madagáscar, ao contrário do que Wallace pensava, não
estava “ligada” a África, mas sim à Índia. O que tem uma importância
significativa no que toca à conservação das espécies, pois se Madagáscar
estivesse, de facto, ligada a África, a sua prioridade seria menor.
Também foi possível ser feita a distinção de um reino, a sul do Paleáctico, o reino Sino-japonês. Enquanto que a Nova Zelândia passou a
pertencer ao mesmo reino que a Austrália (o que não era o caso até à data).
Contrariamente, o reino Australiano foi dividido, tendo sido formado, por
conseguinte, o reino Oceânico – do qual faz parte a Nova Guiné e as ilhas do
Pacífico.
O jovem
modelo do mapa permite, acima de tudo, resolver a questão que diz respeito
àquilo que hoje é conhecido com “As
linhas de Wallace”.
Este
conceito vem figurar um obstáculo à dispersão das espécies animais. De acordo
com o notável naturalista (A. Wallace) estas “linhas” assinalariam uma
desagregação entra as faunas do antigo reino Oriental (que inclui o Sudoeste
asiático e o subcontinente indiano) e o reino da Austrália. No fundo, uma
fronteira que reivindica contrastes biológicos e divergências de ecossistemas.
Wallace havia colocado a fronteira natural entre Bornéu e a ilha Indonésia de
Celebes.
A verdade é
que após inúmeros debates atuais acerca desta temática, tem-se vindo a provar
que as linhas de Wallace (precisamente assim chamadas em honra e memória de
quem as descortinou em primeira instancia) estão, efetivamente, não muito longe
do que prevera o cientista.
Todo este
“conto” faz-nos refletir acerca da construção epistemologia, dos meios usados
para atingir o conhecimento científico (que indubitavelmente mudam consoante as
necessidades da sociedade) e das nossas capacidades mentais como
pseudo-biólogos e “fazedores” da história.
No mundo, e
sobretudo na biologia, nada é estático. Tudo é biodegradável, reciclável.
Muitos fenómenos são cíclicos. E é importante lembrarmo-nos disso quando
tentamos agir, criar, pensar.
Por Ana Catarina Narciso - baseado em “E 136 anos
depois, o mapa-mundí das espécies animais foi actualizado”, in Público.
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